domingo, maio 30, 2004
Certa vez recebi um e-mail de uma menina que se sentiu muito ofendida com um post sobre a casa de orações que perturba a minha vizinhança todas as noites da semana. Ela me perguntava o que eu tinha contra Deus.
Contra Deus?
Contra Deus eu não tenho absolutamente nada. Quem disse isso? Estudei em colégio jesuíta a vida inteira e por mais que a religião católica não responda a muitas das minhas dúvidas, não há como não conservar um resquício que seja de tantos anos. O que essa garota (e talvez muitos que passem por aqui) não entendeu que o que escrevi nada tinha a ver com religião. Pouco me importa se é uma casa de orações, um terreiro de candomblé ou um centro espírita. Cada um que tenha sua fé a seu jeito, contanto que com respeito aos outros. Não digo respeito à fé, digo respeito, simplesmente.
Quer rezar, ótimo. Quer louvar, ótimo. Quer cantar e gritar todo o seu amor por Deus, ótimo. Mas vá fazer isso em uma área isolada, não-residencial, como a casa de orações que a Neném freqüenta semanalmente lá no Eusébio. Se você quer ter sua casa de orações no meio da cidade, não quer gastar sua gasolina e perder seu tempo, então respeite as leis. Não é em todo canto que se pode montar qualquer templo religioso. Montado, tem que haver isolamento acústico e respeito à lei do silêncio. E às leis de trânsito. Puta que pariu, um cidadão trabalha o dia inteiro, pega um trânsito lascado e não pode entrar em casa porque um bonitinho estacionou na frente da garagem! Porque um bando de bonitinhos estacionou embaixo da placa proibido estacionar, ocupando com seus amiguinhos de preces os dois lados de uma rua estreita e mão-dupla! Ontem, a cantoria foi até meia-noite com microfones e alto-falantes reverberando por quarteirões. Liguei para reclamar, mas ninguém atendeu. Provavelmente, não dava para ouvir o telefone.
Não, eu não tenho nada contra Deus. Tenho contra os usos que fazem do nome Dele, uso no pior sentido que a palavra "uso" pode ter. Tenho contra esse bando de gente arrogante e egoísta que, em nome de Deus, atropela qualquer noção de bom senso. Gente egoísta, sim. E, subvertendo a lógica do lead jornalístico ("a informação principal deve estar no primeiro parágrafo"), dou a notícia quente somente agora: eu acabei de presenciar da janela do meu quarto um assalto bem em frente a dita cuja igreja. Um assalto que ocorreu, em parte (não dá pra esquecer a situação da segurança pública no estado), por conta do egoísmo de seus freqüentadores.
Imagine uma rua estreita de duas mãos com carros parados dos dois lados, como eu já disse. Agora, pense que todos querem parar bem na porta da casa de orações porque não podem caminhar dois metros. Aí, cada carro que pára é meia hora para despachar a galera porque absolutamente ninguém está dando bola para o engarrafamento atrás de si. Nem o motorista encosta o carro mais a frente e nem as madames se apressam. O motorista do carro de trás buzina e xinga para em seguida fazer a mesma coisa. Ninguém é capaz de dar uma mínima ré para o outro carro passar. Porque, claro, cada um por si. O discurso da solidariedade é do muro para dentro.
Pois bem, nesse cenário de congestionamento por causa de um carro parado no meio da rua esperando sei lá quem sair da igreja, entre as buzinas, ouvi um barulho diferente. Pensei que fosse uma batida, mas quando cheguei à janela, vi um cara batendo com força o cano de um revólver num carro parado. No desespero, a mulher buzinou com força, arriscando-se a levar um tiro. O motorista da frente não se mexeu um centímetro, mesmo não havendo tráfego algum na frente dele. Muito provavelmente porque pouco se importa com as buzinas de reclamação e ouviu essa como se fosse mais uma, quase sem ouvir. O assaltante arrancou a mulher de dentro do carro e levou todos os pertences de valor dos ocupantes. Ainda aproveitou e assaltou o carro do lado que ia em sentido oposto e também estava parado, pois tanto um quanto o outro se recusavam a dar passagem ao trânsito.
Os ladrões fugiram e metade do povo da casa de orações veio para a rua. Nessa hora aparece cada valente, uma coisa. A outra metade dos fiéis permaneceu na igreja rezando como se nada tivesse acontecido. E a missa continua em alto volume, como sempre. Deve continuar até altas horas também. E aposto como na hora da saída vai se repetir esse cenário de caos, pois é sempre assim. Não acredito em lição, em Deus vingativo, essas coisas, mas as pessoas dessa igreja deveriam refletir mais sobre suas atitudes, seus egoísmos e ostentações.
Acho que ainda tiveram sorte. Se os ladrões tivessem resolvido entrar e fazer uma limpa geral, não precisariam mais "trabalhar" até o final do ano. Pois passe aqui na porta e veja que só tem carro importado e a galera nos ouros.
Igreja onde pobre não entra não merece minha confiança. Mas esse é assunto para outro post.
Repito: esse post não foi sobre religião.
sábado, maio 29, 2004
Ok, atendendo a pedidos... dei uma organizada na lista elaborada na mesa do Bar do Avião em alguma noite quente qualquer de janeiro. A princípio, me imaginei muito desocupada, mas na verdade essa lista é de utilidade pública. Claro que esses ítens não são fixos e que um homem pode carregar uma ou duas dessas características (dependendo do homem e das características, óbvio). Sem mais delongas...
O Homem Cafuçu - natureza e postura
1. Não tem pescoço. Quando tem, é aquele de Vitor Belfort.
2. É musculoso da perna fina.
3. Anda e senta como um orangotango.
4. Tem pêlo nas costas.
5. Tem chulé.
6. Fala cuspindo.
7. Em pé, está sempre escorado ou com os braços cruzados e os polegares de fora.
8. Sentado, escora os braços sobre o bucho ou levanta a blusa e fica passando a mão na barriga.
9. Coça o saco.
10. Invariavelmente tem o cabelo feio, e isso ganha um tópico isolado a posteriori.
O Homem Cafuçu não liga pra "frescura"
1. Não toma banho e tenta disfarçar o furdum com qualquer perfume barato.
2. Nas raras ocasiões em que se banha, o faz com Spree Limão ou algum semelhante cítrico e fedido.
3. Repete a cueca sem lavar.
4. Acha que chave do carro e tampa de caneta Bic podem substituir tranqüilamente o cotonete. O dedo também serve e, portanto, a unha do dedo mindinho é conservada maior para essa atividade.
5. Para ele, comida é buchada, panelada, carneiro. No mínimo, uma picanhazinha. No Assis, Choppicanha ou no Picanha Grill, de preferência.
6. Come com a mão ou com os braços apoiados na mesa e a boca a menos de dez centímetros do prato.
7. Depois de tudo, palita os dentes à mesa. Ou usa o dedo. E ainda fica chupando as carninhas.
8. Sempre sai do recinto com a barba suja de farofa.
9. Diz que arte é coisa de viado. Sua leitura resume-se ao caderno de esportes, sites de putaria e livros de anedotas do Ary Toledo.
10. É fã do Van Damme, do Chuck Norris e da Pamela Anderson - claro! Filme de arte é coisa de viado, já disse.
O Homem Cafuçu - um ser social
1. Chama todos os amigos por machu, viado, barão e fêla da puta e gosta de dar tapinhas nas costas, empurrõezinhos ou soquinhos.
2. Sempre fala pegando, encarando o decote e chama as colegas de apelidos ridículos do tipo amorzinho e princesa.
3. Se acha muito gostoso e canta ofensivamente toda mulher que passa por ele. Sempre com cara de tarado e voz de latin lover bêbado.
4. No trabalho, sempre que pode rouba dos colegas, canetas, agendas, clipes - afinal eles também servem para limpar o ouvido.
5. Manda spams para toda a lista de contatos com fotos de putaria, piadas sem graça, falsos boatos e - o pior - correntes.
6. No trânsito, dirige com o banco lá atrás e o braço reto (mesmo que tenha 1.50m de altura). Tem um som potente, ouve forró, funk, sertanejo ou pagode e joga lixo na rua. Canta pneu também.
7. No ônibus, fica pinando.
8. Conta piada e acha que é engraçado.
9. Chama os amigos para as festas que tem "muita mulé e cachaça"
O Homem Cafuçu e a moda
1. Usa blusas de time de futebol, geralmente um número menor que o seu. (Claro que estão dispensadas dessa categoria as blusas de times cool europeus e, em algumas ocasiões, o uniforme nº 2 da Seleção Brasileira)
2. Usa blusas com personagens marrentos tipo o Bad Boy ou fofos e meigos como o Piu-Piu. (Aqui também há espaço para exceções. Bacanas são a Mafalda ou o Calvin, por exemplo)
3. Calça sapatilhas tipo mocassim com franja. Sem comentários, o cão estava muito inspirado nesse dia.
4. Faz a barra da calça virada para fora. (Alguns podem porque conseguem tirar o ranço brega. Mas são poucos, muito poucos)
5. As calças e shorts estão sempre abaixo da pança e mostrando o cofrinho.
6. vai à praia com bermudas do Seu Boneco ou shorts do Fortal.
7. Usa chinelo um número menor, com o calcanhar relando o chão.
8. Gosta de Rider.
9. Tem pochete.
10. Compra blusas regata.
quinta-feira, maio 27, 2004
Verdade. Estou em Fortaleza novamente. Minha garganta deve voltar por esses dias também. Viagem abreviada. Planos adiados por uns dois anos, provavelmente. Tudo porque agora faço parte daquele grupo de pessoas que tem os prazereres pequeno-burgueses de esperar o décimo terceiro para fazer as compras de Natal.
Acabei de descobrir que aqui não tenho acesso a contas de e-mail pessoal...
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Soube de um cacete federal hoje na UFC. Espancamentos, mães desesperadas, alunos ilhados, polícia dentro do campus, tiros e o escambau. Isso tudo a poucos metros das salas onde eu tinha aula.
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Em São Paulo, poderia ganhar dinheiro como manicure (de 20 a 30 reais um pé e mão) ou vendendo roupinhas simples pintadas a mão (98 reais uma blusa de algodãozinho, 127 reais uma saia de retalhos).
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Achei lá em casa uma lista elaborada numa noite de ócio e cerveja no Bar do Avião durante a mais recente passagem de Flávia pela cidade, em janeiro, acho. A lista das maiores cafuçagens que um homem pode fazer.
domingo, maio 23, 2004
Toda vez que passo em frente ao Edifício Serra do Mar, sinto uma certa raiva dos meus pais por terem se desfeito do nosso apartamento. O prédio todo em tijolinho vermelho com janelões de vidro do chão ao teto continua igualzinho, com seu jardim que nos leva aos arcos que dividem os blocos. Não entrei para visitar a amiga da mamãe e ex-vizinha que me trata como afilhada porque ela não estaria em casa aquela hora. Olhei do lado de fora da grade, sentindo a chuva fina que não cessava desde o Ibirapuera. Com minha sombrinha espalhafatosa de flores à la Carmem Miranda comprada em uma providencial banquinha de camelô, pensei no apartamento todo acarpetado; era um tapetão fofo que cobria todos os cômodos e onde o pé afundava. O papel de parede bege em mosaicos e o forrorama (que no Ceará não conhecem e não há utilidade, é uma placa de gesso decorativa que esquenta o ambiente) combinando tão bonitinhos com os móveis em estilo colonial que acompanharam a mudança para Fortaleza. A vista era para a piscina e para o sol. Quando se escondia, corriam todos para o quarto dos meus pais para curtir o aquecedor. Enfim, um apartamento de boas e aconchegantes lembranças à família.
E ainda por cima ficava a duas quadras da estação do metrô.
A pracinha em frente (onde vez por outra achava-se uma galinha preta com farofa) deu lugar a um condomínio Klabin. De todo modo, duvido que alguma criança brinque em praça paulistana hoje em dia, mesmo num bairro tranquilo como a Vila Mariana.
Termino a curva, subo uma leve ladeira (ô cidade íngreme, Jesus!) e pego o metrô rumo à balbúrdia da Paulista. A chuva fica mais forte e reparo que meu guarda-chuva é o único estampado. Não rio para não respirar gelado.
quinta-feira, maio 20, 2004
Cinco reais por meia hora num cyber café aqui pertinho da casa da Amarílis, onde estou por esses dias. Apesar da correria da FSP, ela sempre tem um tempinho e continua um amor, claro. O Emiliano também é uma figura. Já revi praticamente todas as pessoas que me fazem falta em Fortaleza, a Clara, Renatinha, Flávia, Belle e Tereza. Conheci pessoas novas, inclusive a Lígia, criadora das comunidades mais legais do Orkut (vício que abandonei à força por aqui).
Trouxe roupinhas outonais, mas a temperatura já está de inverno e nem quero imaginar como será o mês de julho nessa cidade. Por exemplo, saí hoje por volta de meio-dia e o termômetro marcava 16 graus. À noite chega facinho a menos de 10. Trouxe mil remédios e esqueci justamente o da faringite, que - como previa - me atacou na manhã de hoje.
Peço desculpas a todos que comentaram ou mandaram e-mail, mas não dá tempo de responder. Aliás, minha meia hora aqui tá acabando. Deixem-me ir. Muitos chopps e pastel pra vocês.
quinta-feira, maio 13, 2004
Ajude uma matéria a nascer
Você conhece alguém que já ganhou algum prêmio de Loteria, Mega Sena, Super Sena ou qualquer coisa desse tipo? Ou alguém que seja fissurado na fezinha e aposte toda semana? Um amigo que participe de bolão? Se a resposta é sim, peço encarecidamente que entre em contato comigo o mais rápido possível. Grata por toda a vida.
segunda-feira, maio 10, 2004
Mesmo que a Oi não ajude, tive direito a ouvir alguns acordes de Pixies ao longe. Enquanto
ele não
faz inveja posta nada sobre o show, podemos ver um comentário catado no
Quatro Acordes.
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Paguei a mensalidade e vou dar uma última chance ao sindicato. Aliás, citando outrem, você sabia que existe um sindicato?
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Preciso me acostumar com algumas idéias.
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Quando não esqueço o pacote de chiclete, adoro viajar de avião.
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Parece mesmo que São Paulo é uma festa.
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Acho que amanhã é um bom dia para ver Gael.
sexta-feira, maio 07, 2004
O México é aqui
Ao meu lado, Raquel e Fábio esperam que a mocinha da xerox da Cultura Francesa resolva nos atender. Bianca se aproxima e segue-se o seguinte diálogo:
Fábio: Ei, Bianca, beleza?
Bianca: Nem apareceu ontem!
Fábio: Pois é, meu pai botou boneco com o carro... Ah, Bianca, você conhece a Raquel? Ela é irmã do Paulo.
[Raquel sorri]
Raquel: Ah, você conhece meu irmão?
Bianca: sim, conheci.
Raquel: Nossa, você fala "conheci" no passado, como se ele tivesse morrido.
Bianca: Para mim, morreu.
--- silêncio constrangedor ---
[O celular de Bianca toca providencialmente, e ela se afasta para atender]
[Fábio e Raquel permancem em silêncio até a moça aparecer. "Tira duas dessa aqui, por favor"]
Os nomes são fictícios, mas o diálogo é verdadeiro. Só fico imaginando o tamanho da merda que o tal do Paulo deve ter aprontado.
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Quero sair daqui, tanto que até em comunidade do Ork(c)ut com esse nome entrei. Racionalmente, marquei:
DF PE SP RS BA MG PR SC CE RJ PA AM
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Bem doida que vou dar 50 reais num livro da Erika Palomino!
terça-feira, maio 04, 2004
Se fosse para escolher... trabalhar como jornalista e ser obrigado a assinar como radialista ou assinar como jornalista e trabalhar como publicitário?
Acho que prefiro continuar como estou.
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O que me leva a pensar que a auto-estima pode adorar uma montanha-russa, mas tem que manter o respeito, o amor-próprio. Acho que tenho que dizer a alguém bem ali para, pelamordedeus, manter a dignidade e deixar de ser expôr ridiculamente por causa de alguém que não se importa com corações alheios.
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Eu sabia que isso ia acontecer! Tal e qual algumas festas do Ritz, o Orkut também congrega muitos dos meus ex-namorados, casos, rolos, paqueras e afins. Pois não é que o menino mais idiota com quem já fiquei (eu me prometi que me tornaria abstêmia após aquela noite no extinto Domínio) está lá! Pelo perfil, é commited, bem empregado (sabe aqueles concursos públicos com salários so high?) e cheio de pedrinhas de gelo, carinhas felizes e corações vermelhos, além de colecionar declarações femininas no scrapbook. Se você o conhecesse, também ficaria pasmo, juro. Temos amigos em comum, mas prefiro me fazer de doida. Afinal, meu povo, entre outras coisas, ele se depilava e achava que a maior diversão possível era jogar coisas pela janela do apartamento, isso após os vinte anos de idade. Não há maturidade ou transformação que apague isso.
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Parece que a tendência (juro como procurei outro termo) é uma supervalorização da natureza. A
Diesel, aquela marca italiana que cobra olhos, boca e nariz da cara por uma calça, investiu pesado nesse marketing. A campanha "Diesel Society of Nature Lovers" pergunta "are you ready to love nature while it lasts?".
Uma das fotos do catálogo que propõe um contato mais íntimo com a natureza:
Conheço algumas pessoas que aderiram à campanha com força aqui no Brasil. Folhas de bananeira ainda não vi, mas em Palmácia os tronco fizeram sucesso. No names, no names...
segunda-feira, maio 03, 2004
Pedagoguês é chato pra caramba, mas qual é a melhor forma de tratar a morte e a ausência com uma criança? Se nem nós lidamos bem com isso... E quando um dia ela descobrir que os vivos também se ausentam, e nem sempre a referência é geográfica? Ausentam-se mesmo que morem a três quarteirões. E saber que as ausências muitas vezes são irreversíveis? Podem vir me falar todas teorias possíveis de que é preciso quebrar a cara desde cedo, aquela coisa de que o homem passa por crises desde o nascimento até a morte, mas eu não suporto ver aflições em crianças de cinco anos. Por mim, ela só sorriria. Ela e sua primeira janelinha.
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Andei sem computador por esses dias, dependendo apenas do NPD.
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Vi a Sofia Coppola, aquela mesma, numa festinha, assistindo a um show de strippers.
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Gente que reclama de quebrante. Há quanto tempo não ouvia essa palavra.